sábado, 20 de fevereiro de 2016

POR QUE DA VERGONHA


Vergonha de quê?


Para o naturismo, a nudez representa respeito ao próximo e à natureza
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Ele volta-e-meia é confundido com apologia ao sexo, pornografia ou libertinagem.
 Mas basta estar um pouquinho mais por dentro do assunto para perceber que o naturismo, definitivamente, não é nada disso.
 Se depois de ler essa matéria você chegar à conclusão de que realmente não entendia bulhufas sobre esse movimento e acabava o interpretando mal, também não é pra se sentir culpada.
 É natural (sem trocadilho) que nós, ensinados desde cedo a esconder – e muito bem escondido!
 – determinadas partes do corpo, tenhamos desenvolvido uma barreira praticamente intransponível em relação à ideia de estar nu em algum local público.
 Pois é justamente subvertendo esse padrão, onde vigoram a vergonha e o sentido de pudor, que os naturistas buscam estar mais próximos da natureza, valorizando a igualdade entre todos, a aceitação do próprio corpo, o respeito pelo outro e, acima de tudo, pelo meio ambiente.
Em 1974, no congresso realizado em Agde, na França, a Federação Internacional de Naturismo (INF – International Naturist Federation) definiu a prática da seguinte forma:
 “É um modo de vida, em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, com a intenção de encorajar o autor espeito, o respeito pelo próximo e pelo meio ambiente”.
 Mas para que a gente realmente compreenda o naturismo como um estilo de vida, é preciso ouvir, da boca de seus adeptos e representantes, o que eles pensam e sentem.
 Alberto Pólo é naturista há dois anos e meio.
 Ele e a mulher já tinham ouvido falar do naturismo através da imprensa e, quando se mudaram para Brasília, descobriram que havia um clube naturista próximo, onde aconteciam reuniões freqüentes.
 “Fomos ao clube, participamos de uma festa, conhecemos mais a fundo o movimento e sentimos vontade de fazer parte dele.
 Desde aí estamos participando”, conta Alberto, que comparece, com a mulher, ao encontro mensal no Clube Naturista do Planalto Central (PLANAT), no Distrito Federal.
Ser natural: vergonha de quê?
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Na hora de apresentar sua filosofia aos leigos, os naturistas costumam chamar atenção para o fato de a nudez já ter sido encarada, em outras épocas, com maior naturalidade.
 No site da Associação Naturista de Minas Gerais (NATMG), o texto “A nudez na história”, de Adalto Felisário Munhoz, diz que “em Israel, no tempo antigo, tomava-se banho completamente nu em fontes e jardins públicos.
 Também em Israel, nos tempos helênicos, a ginástica era praticada sem roupa alguma.
 O próprio Francisco de Assis ficou nu em público, na presença do bispo Guido e do povo e não foi preso por atentado ao pudor.
  O pintor Buonarotti, pintou totalmente nus, na Capela Sistina, Jesus, Maria e todos os eleitos, assim como todos os condenados, no quadro do Juízo Final.
 Mais tarde, um papa contratou outro pintor para “vestir” as pinturas”, escreve o autor, acrescentando que “o que era puro e natural, passou a ser perverso a ponto de gerar crimes, discórdias, tristezas, dispersão e esfacelamento”.
Aliás, se nos remetermos à origem do nosso país, veremos que roupas realmente não eram muito a praia dos nativos brasileiros.
 “Quando o Brasil foi descoberto, não existia roupa aqui. Nossos índios sempre viveram sem elas.
 Pero Vaz de Caminha registrou, na carta que escreveu ao rei de Portugal, que os índios andavam sem cobertura alguma:
 ‘não fazem o menor gesto de cobrir ou mostrar suas vergonhas e nisso, são tão inocentes como quando mostram o rosto’”, lembra o presidente da Federação Brasileira de Naturismo (FBRN), Elias Alves Pereira.
Alberto Polo nos explica como o estar nu se transforma numa profunda sensação de liberdade.
 “Nós fomos educados para dicotomizar o corpo, separá-lo:
 uma parte é sagrada, a outra não, deve ser escondida.
 Nós, naturistas, não entendemos assim.
 Defendemos que o corpo é um só e nada impede que consideremos todas as partes bonitas e agradáveis”, defende Alberto, que também acredita que os benefícios do naturismo estão baseados na qualidade das relações sociais que se estabelecem.
 “Dentro da atividade naturista, você acaba tendo uma relação de confiança com as pessoas, ninguém tem motivo para não olhar no olho do outro.
 É diferente de quando você vai a um clube comum, onde é capaz de você sair sem ter falado com ninguém.
 A atividade naturista é um momento em que as pessoas se desligam da hipocrisia e passam a ter uma vida mais simples, desprovida de complexos, lidando com pessoas reais.
 Porque quando olhamos a novela ou folheamos uma revista, nós vemos padrões de beleza pré-estabelecidos, um estereótipo.
 No naturismo vemos cada um do jeito que realmente é, sem negar e esconder nada.
 Essa aceitação é muito boa”, esclarece o naturista.
Ambiente familiar
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Ao contrário do que muita gente imagina, o ambiente familiar é característica marcante do naturismo.
 Os eventos promovidos nos clubes, associações ou praias são sempre recheados de atividades de lazer, como jogos de futebol, vôlei, peteca, natação, passeios (percorrer trilhas na mata e mergulhar em cachoeiras são programas que fazem sucesso) e churrascos ao redor da piscina.
 Tudo num clima descontraído, mas sempre levando a sério o respeito pela natureza e pelos companheiros.
 As crianças cumprem um papel importante no ambiente naturista.
 “O senso comum às vezes pensa que tiramos a roupa pra promover a sensualidade, mas não.
 Tanto que o ambiente familiar é primordial no naturismo.
 Famílias inteiras se envolvem e tem muita participação das crianças.
 As crianças são naturistas natas, têm facilidade para não enxergar maldade em estar nu e se sentem bem assim.
 A finalidade não é libidinosa, pelo contrário, é desenvolver o respeito, seja um com o outro, com a natureza e até consigo mesmo”, explica Alberto Polo.
 Conforme, o naturismo significa, para seus adeptos, “restaurar o balanço entre as dimensões física e psíquica, livrando as pessoas das tensões internas causadas pelos tabus e pelas provocações da sociedade contemporânea”.
Normas éticas
Uma prova de que o naturismo não tem nada a ver com obscenidade e desrespeito é a seriedade com que seus adeptos defendem e pregam as normas  da comunidade.
 São consideradas faltas graves, permitindo a expulsão do infrator do local e das demais áreas naturistas, as seguintes condutas:
Ter comportamento sexualmente ostensivo e/ou praticar atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas;
 Praticar violência física como meio de agressão a outrem;
Utilizar meios fraudulentos para obter vantagem para si ou terceiros;
 Causar dano à imagem pública do naturismo ou das áreas naturistas;
– Portar ou utilizar drogas tóxicas ilegais.
Além disso, algumas atitudes podem ser consideradas comportamentos inadequados, constituindo motivo para advertência, suspensão e até expulsão. São elas:
Fotografar, gravar ou filmar outros naturistas sem a autorização dos mesmos;
Concorrer para discórdia por intermédio de propostas inconvenientes com conotação sexual;
 Causar constrangimento pela prática de atitudes inadequadas;
 Satisfazer necessidades fisiológicas em áreas impróprias ou exceder-se na ingestão de bebidas alcoólicas, causando constrangimento a outros naturistas;
 Utilizar assentos de uso comum sem a devida proteção higiênica.
Comportamentos que deveriam ser seguidos por todos nós, em qualquer local, mostram que o naturismo vai muito além da liberdade de não usar roupas.
 O respeito ao meio ambiente é o cerne dessa filosofia, já que o naturista busca estar próximo à natureza.
 Por isso, também é proibido deixar lixo em locais inadequados; e provocar danos à flora e à fauna.
 Por fim, uma norma que faria muitos não-naturistas felizes se vigorasse nos demais espaços públicos:
 utilizar aparelhos sonoros em volume que possa interferir na tranqüilidade alheia é considerado comportamento inadequado.
 “Como costumamos dizer, cada país e grupo naturista tem suas particularidades.
 Uns são mais fiéis aos princípios de saúde ligados ao naturismo, seguindo inclusive o vegetarianismo e a prática de exercícios, outros menos rígidos, praticando um naturismo mais próximo das condições em que vivemos na nossa sociedade.
 Mas o importante é que todos seguem as mesmas normas e possuem o mesmo objetivo, que é o crescimento do ser humano e uma maior proximidade com a natureza”, conclui Elias Alves Pereira.































F I M

Um comentário:

  1. Não existe vergonha! Sim somos muito felizes, em frequentar esse ambiente maravilhoso onde não existe diferença e somos todos iguais.

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